sábado, 1 de março de 2014

Hungaro tem caráter e dá a cara a tapa

No ano de 2013, eu muito reclamei de treinador que não assumia erro, nem os próprios e nem os de seus comandados, justificando maus desempenhos como algo que "simplesmente passa" — isso quando reconhecia que havia algo reprovável.

Para 2014, foi escolhido um treinador inexperiente, apesar de já ter certo tempo de casa em General Severiano. Eduardo Hungaro, em ano de Libertadores, foi (ou ainda é) visto com olhares meio atravessados por botafoguenses, como eu. Não seria (ou é) um equívoco colocar o time nas mãos de alguém que não tenha antes conduzido outro esquadrão em grandes competições? Talvez, mas os fatos têm jogado a favor de "Duda". Ao menos na minha visão.

O time vai bem na Libertadores. Apesar da derrota para o Deportivo Quito na estreia, massacrou o clube equatoriano no Maracanã. Já na fase de grupos, contra o San Lorenzo, no mesmo Estádio Jornalista Mário Filho, outra vitória consistente foi conquistada, sem chances para o atual campeão argentino (e time mais abençoado do planeta). Contra o fraco Unión Española, no Chile, nada mais que um decepcionante empate, mas, por se tratar de peleja na casa do adversário, matematicamente, não foi ruim.

Algumas críticas, no entanto, vêm se concentrando em Hungaro devido ao desempenho do Botafogo no Campeonato Carioca. Principalmente após a derrota de hoje frente ao pífio Macaé, muitos estão insatisfeitos com o desempenho do time no Estadual. Penso, todavia, que Hungaro tem agido corretamente: não se pode sacrificar o time da Libertadores, de nossa Libertadores após 18 anos, no campeonato estadual. Não importa briga por bicampeonato: a inteligência precisa ser maior que o orgulho. A Libertadores é prioridade. E Hungaro tem escalado as melhores peças entre os reservas. Se as melhores peças dentre os reservas são risíveis peças, a culpa não é do treinador.

Além disso, Hungaro, já no intervalo, hoje, colocou dois titulares (Wallyson e Ferreyra) no time, além de Lodeiro, logo depois. O time precisava jogar mais para frente; urgia que o treinador ousasse. E foi o que foi feito.

Ademais, vejo que as boas atuações do time na Libertadores, além de pelo décimo segundo jogador — nossa maravilhosa torcida —, são em grande parte devidas a Hungaro, que não comanda um time brilhante. Edilson é um lateral limitadíssimo, que só tem como grandes qualidades a raça e um potente chute; Julio Cesar às vezes é indolente; Bolívar às vezes se confunde; Marcelo Mattos é uma porta; Jorge Wagner não é ruim, e não que seja correto comparar alguém com Seedorf, mas aquele poderia ter ao menos umazinha característica de nosso último camisa 10...; Lodeiro é oscilante; Ferreyra é um dos maiores caneleiros que já vi com a camisa do Botafogo. E ainda assim vamos bem.

Em suma, apoio totalmente Hungaro no que tange a escalar os reservas no Carioca. Com o perdão do termo, mas que se dane o Estadual quando se tem uma Libertadores. Ainda assim, "Duda" dá a cara a tapa, como fez hoje após a deplorável derrota frente ao Macaé, e diz que a responsabilidade pela má colocação do time no Carioca é dele. Não é, a meu ver. Os reservas são muito limitados. Mas, ainda assim — é muito bom e divertido lembrar —, fazem rival virar pó de arroz. Hungaro foi um dos responsáveis pelos 3x0 — tirou leite de pedra.

Enfim, Hungaro dá sinais de saber lidar com limitadas peças do elenco. E tem caráter, dá a cara a tapa, mesmo quando não necessariamente precisaria.

Minha única crítica, por enquanto, é: Marcelo Mattos titular não dá mais. Principalmente quando se tem Bolatti no time. O argentino, guardadas as proporções, pode devolver ao Botafogo um pouco do que foi perdido com a saída de Seedorf: lucidez, visão, tranquilidade e qualidade no passe.

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Vinícius Franco - @franconio
01º de março de 2014

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