terça-feira, 1 de outubro de 2013

Estrela Solitária contra as nuvens

Escrevo aqui bem esporadicamente, naquelas épocas em que sinto que muito é dito, e ao mesmo tempo muito pouco ("fala demais por não ter nada a dizer...", diria Renato Russo). Não que me ache especial ou superior, mas preciso expressar-me.

Há três rodadas, o Botafogo de Futebol e Regatas era o segundo melhor time na tabela do Campeonato Brasileiro e considerado candidato ao título. Um jogo, contra o líder, mudou a ideia de alguns: 3x0 não é qualquer coisa. Contudo, muitos ainda entenderam que era apenas uma peleja em território alheio, em que não conseguimos construir nossas trincheiras, e fomos bombardeados. Sem desespero: no primeiro turno, o mesmo time que agora nos venceu havia nos visto levar os três pontos – 2 a 1, em Volta Redonda, e eu estava presente torcendo (leia-se sofrendo – como suamos!).

Após a derrota merecida – não obstante o placar exagerado – diante do primeiro colocado, teríamos dois jogos, em tese, tranquilos. Os dois adversários – em tese e na prática – seriam fracos: Bahia, nem lá nem cá, e Ponte Preta, bem lá (embaixo). Dentro dos gramados, no entanto, os 180 minutos revelaram um Botafogo perdido, sem energia, sem gana, sem criatividade, sem futebol, sem o Botafogo dos 9 meses anteriores, sem nada. Duas derrotas em jogos que, inicialmente, nos dariam 6 pontos garantidos, o que faria com que o líder não se distanciasse como fez (11 pontos a nossa frente) e nem que nossa batalha pela vaga na Libertadores ficasse psicologicamente abalada. E diante da própria torcida.

Duros golpes, de fato. Três derrotas seguidas servem de contestação para quem briga pelo título e até mesmo pela Libertadores. Nossa visão, entretanto, apesar de justificadamente baqueada, deve recuperar-se e entender que desanimar agora é errado – emocional e matematicamente.

Há poucas rodadas, este mesmo Botafogo era conhecido como "o time que se recusa a entrar em crise". Salários atrasados, estádio saqueado, importantes peças transferidas a tabuleiros estrangeiros, enfim, inúmeros fatores que levariam qualquer co-irmão à zona de rebaixamento nos deixaram na liderança ou na cola dela, além de não ter nos impedido de levantar a taça de melhor time do Rio de Janeiro com uma folga poucas vezes vista. O time se reinventava; Oswaldo de Oliveira, ainda que após um tempo, mostrava que suas apostas sempre davam certo; tudo, ainda que no mais típico sofrimento botafoguense, dava certo. A Estrela Solitária nos conduzia à glória mesmo sob forte chuva de meteoros. Conduzia?

Nuvens parecem ter se formado sob o teto de General Severiano após as três derrotas, duas das quais patéticas sob o aspecto da postura do time. Mas será mesmo que não podemos continuar acreditando nesse time que por tantas vezes já se mostrou herói? Não podemos desafiar a tempestade que parecer estar se formando para continuarmos caminhando na estrada dos louros? Não há um facho de luz? Há, e é o mesmo que nos permitiu acumular 42 pontos, nos deixando no G4, agora na 3ª colocação (empatado com o 2º), e nos pode fazer acreditar que não há nuvens que afastem o brilho de nossa Estrela. Se para o título, não sei: o Cruzeiro abriu uma grande vantagem e demonstra uma regularidade em sua campanha apenas comparável à do Náutico. Mas nosso objetivo no início do campeonato era a Libertadores, e estamos mais do que vivos para realizá-lo.

Ademais, do que podemos chamar nossas vitórias contra Atlético Mineiro, na Copa do Brasil, após ver o nossos maior freguês abrindo 1 a 0 em pleno Maracanã? Como podemos ver a vitória sobre o Criciúma, em Santa Catarina, com gol de voleio do Elias no último minuto – aquele mesmo último minuto que tanto nos castigou? O que foi o gol de Hyuri no final do jogo contra o Corinthians, após enfiada seedórfica de Edílson?

Em suma, como devemos encarar um time que, internamente, neste ano apanhou mais do que manifestante frente à polícia, mas que em campo levantou uma taça e se mantém na briga por outras duas?

Desanimar não é opção. Retirar o apoio não é opção. Vaiar não é opção. Se somos Botafogo, devemos estender as mãos quando o time tropeçar, porque se esse esquadrão é o mesmo que se negou a entrar em crise quando não se poderia exigir o contrário, nós, torcedores, que dizemos amar, iremos nos acovardar?

Amanhã, quarta-feira, às 21h, temos um clássico no Maracanã. O adversário é um que já cansou de saber o que é ver a Estrela Solitária brilhando e afastando todas as nuvens em 2013. Os que podem têm, no mínimo, obrigação de ir ao Maracanã – e apoiar do início ao fim. Os que não podem ir têm o dever de contagiar toda a torcida, vestir a camisa, sair nas ruas e mostrar ao Brasil que estamos vivos. Que o Botafogo é e há de ser nosso imenso prazer. Amanhã e em todas as rodadas restantes. Retroceder e render-se, jamais!

Não me entrego sem lutar
Tenho, ainda, coração
Não aprendi a me render
Que caia o inimigo então.
(Legião Urbana - Metal Contra As Nuvens)

Vinícius Franco

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