domingo, 19 de janeiro de 2014

Sobre a estreia, Húngaro e enganadores

Fui ontem ao Raulino de Oliveira assistir ao fatídico e deprimente Resende x Botafogo, um jogo feio e que merecia ter como vencedora a equipe do interior fluminense. Sorte a nossa que o time deles foi tão incompetente quanto o nosso "B".

No entanto, reconheçamos: é só a primeira partida e de um time recheado de jogadores muito jovens. Falta de entrosamento e timidez são elementos esperados — embora não sirvam para eximir de culpa pelo desapontamento de quem incinerou dinheiro para ver essa pelada.

Quando cheguei em casa, pensei em escrever sobre a partida. Desisti, acreditando fazer mais sentido dormir. Não estava errado, mas ainda assim quero fazer algumas ponderações:

O time de ontem, como um todo, merece uma nota não acima de 5. Todavia, ainda merecem reforçadas críticas jogadores como Lima. O jovem lateral-esquerdo, que já havia atuado com a camisa Gloriosa — e ontem vestia a 6! Que heresia! Perdoe, Nilton! — mostrou mais uma vez que não tem qualidade para atuar nem mesmo em nosso time "W". Erra até pensamento.

Por outro lado, apesar do baixo nível geral, destaco positivamente (na medida do possível) Rodrigo Souto, que mostrou poder oferecer ao Botafogo mais do que amizade ao presidente. O volante marca muito bem, demonstrou um ótimo tempo de bola, bastante garra e também visão — foi dele o passe para Gabriel assistir Renato no primeiro gol.

Pode-se tecer alguns elogios também a Daniel, embora elogios tímidos, assim como o próprio jogador. Principalmente na primeira etapa, o jovem meia, que acabou de renovar o contrato, demonstrou muita movimentação e uma certa qualidade no passe. O que não perdurou no segundo tempo, o que acarretou sua substituição.

Vale ainda comentar a atuação de Renato. O experiente meia atuou mais à frente, cumprindo função parecida com a exercida por Seedorf (volta!), e, no quesito posicionamento, pode ganhar alguns aplausos; porém, é o mesmo Renato lento, inseguro e promissor jogador de Showbol. Marcou o primeiro gol, demonstrando ter entendido bem a importância de sua aproximação com o ataque, mas atrasou tantas outras jogadas. E é nosso reserva imediato do meio-de-campo na Libertadores! Mas sobre isso falo já já...

Embora tenha reconhecido que foi só a primeira partida e que falta de entrosamento seja algo esperado e normal, o que exime um pouco de culpa também o treinador, quero destacar minha discordância em relação à opção tática adotada por Húngaro, especialmente ao longo da partida. De fato o time, com Oswaldo, estava acostumado a jogar no 4-2-3-1; é verdade também que "Duda" havia afirmado que a formação tática dependeria das características dos jogadores à disposição, o que eu aprovo. Entretanto, Henrique não é jogador para esse esquema. Menos ainda quando se tem — e se percebe isso ao longo da partida — Renato, Gegê e Daniel não conseguindo fazer a bola chegar bem ao ataque. Renato, quando chegava à frente, era para tentar concluir, não para fazer a bola chegar ao homem de frente. Os outros dois são jovens e ainda tímidos. Não adianta jogar com três meias se a bola não chega ao ataque, principalmente por faltar um homem para fazer a ligação. Exatamente por isso, a meu ver, Húngaro errou no segundo tempo ao tirar Henrique e colocar Sassá. Deveria ter tirado Renato ou Gegê para colocar Sassá. Com isso, um dos atacantes poderia jogar mais recuado, buscando a bola e fazendo-a chegar ao outro companheiro de área, estando mais próximo deste. Mas reconheço, isso é coisa para se ajustar aos poucos. Vamos com calma. Vaias a esse time por enquanto não têm tanto fundamento. Não reprovo (ainda) a ideia de dois times, visando a Libertadores.

Para finalizar mais este testamento, mister se faz execrar a atual diretoria. No post sobre a saída de Seedorf, falei que precisávamos confiar. Mas Rafael Marques ainda não havia saído. Negativo, não considero o autor do gol do título Carioca de 2013 um craque, porém era útil ao time. E era atacante. Agora, para a Libertadores, temos apenas Ferreyra e Elias — os quais me agradam, mas são insuficientes. Temos dois centroavantes, sendo que o reserva imediato é Henrique, o mesmo que não marca há mais de 20 jogos.

Ademais, para o meio-de-campo, na armação, o time da Libertadores tem Jorge Wagner e Lodeiro, dois bons jogadores e de características distintas. Ótimo! Seria ótimo, se o reserva imediato não fosse Renato e suas características já mencionadas, sem contar os outros despreparados jovens valores.

E haviam dito que tudo estaria resolvido até o Natal. E haviam dito que a torcida teria surpresas há semanas atrás. Teve.

O que a diretoria do Botafogo quer na Libertadores? O que a diretoria do Botafogo quer em 2014? O que a diretoria do Botafogo quer com o Botafogo?

Vi Maurício Assumpção ontem no Raulino de Oliveira. Senti ojeriza.

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Vinícius Franco - @franconio
19 de janeiro de 2014.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dia de lamentar, agradecer e confiar

Pode-se dizer que o dia 14 de janeiro de 2014 é tão marcante na história do Botafogo e de sua torcida quanto 6 de julho de 2012. Seedorf chegou, e agora sai. Um dos grandes craques da história do futebol passou e construiu tudo de positivo que se podia esperar dele — logicamente, num dos maiores clubes da história do futebol.

Hoje lamentamos. Abandona o Botafogo — e o futebol, como jogador — um raio holandês, que nem passou tão rapidamente assim, mas que abalou significativa e positivamente as bases do Glorioso. Seedorf nos orgulhou só por chegar, continuou nos enchendo os olhos com a bola nos pés e não foi diferente em sua postura — inigualável em relvados tupiniquins.

O choro — interior ou não — da torcida Gloriosa hoje é inevitável. Mas não se deve apenas chorar e deixar que a emoção nos leve, inclusive, a um estado de raiva. Não minto: a saída de Seedorf, no momento do retorno do Botafogo à Libertadores, decepciona. Se ele não seria imprescindível, ao menos, certamente, teria importância ímpar. No entanto, ele está em seu direito. Não apenas aquele frio, do papel e das cláusulas contratuais, mas na missão: aqui, a sua foi cumprida. Nos devolveu a paixão e o orgulho de torcer para, agora oficialmente, um dos maiores clubes da América. Devemos agradecer. Se ele não foi o único ou maior responsável por nosso retorno à Libertadores, com certeza foi um dos maiores.

E aqui não posso deixar de registrar um agradecimento por motivos bem particulares. Seedorf me fez ver, a

poucos metros de mim, um dos maiores jogadores da história vestindo a camisa do meu clube — um dos maiores da história. Vi gol de Seedorf. Vi assistências de gênio de Seedorf. Vi cobrança de falta de Seedorf explodindo no travessão. Vi Seedorf vendo mais que todo mundo em campo. Vi Seedorf errar pênalti. E, o principal de tudo, vi Seedorf levantando a primeira taça que vi meu time conquistar frente a frente. A vitória sobre o Fluminense e as consequentes conquistas da Taça Rio e do Campeonato Carioca de 2013 em Volta Redonda — bem como todos os outros jogos do craque que presenciei — estão e estarão eternamente em minha memória. Levemente decepcionado ou não, Seedorf é um cara do qual falarei e muito bem para meus filhos e netos. Honrou a Estrela Solitária que botou no peito e encheu nossos corações de alegria inúmeras vezes.

Sendo uma engrenagem tão importante para nosso esquadrão, é óbvio que Seedorf fará falta. Uma Libertadores com ele colocaria medo nos adversários duplamente — pelo currículo e pelo que de fato faz. No entanto, o momento não é só de chorar e agradecer. Secadas as lágrimas e passados os abraços, é hora de olhar para frente. Logo ali na esquina tem uma Libertadores nos aguardando.

Muito embora precisemos rapidamente de uma reposição para o meio-de-campo, não estamos com a armação desestruturada. Já chegou o ótimo e técnico Jorge Wagner, além de termos o rápido — embora oscilante — Lodeiro.

Agora um comentário talvez criticável, e até aparentemente contraditório. Além de termos boas peças, Seedorf, nos últimos jogos de 2013, não vinha sendo tão decisivo nas partidas mais difíceis. O Botafogo pode vencer sem ele. Embora com ele fosse bem mais fácil...

Acredito também que Nininho (também conhecido como Maurício Assumpção, o presidentista) trará uma reposição para o meio-de-campo. Talvez não tão grandiosa, claro, mas útil, ao menos. Sem contar que temos ótimos valores da base, como Daniel — em relação a quem eu aconselho a diretoria, para ontem, incluir uma multa rescisória bem gorda no contrato.

Ademais, Forlán ainda pode vir. Se chegar, as viúvas de Clarence secarão as lágrimas num segundo. Se não, conquistaremos a América mesmo sem crédito dos pseudo-botafoguenses.

Somos botafoguenses, somos supersticiosos, somos sofridos e únicos em nosso jeito de torcer, mas se tem uma coisa que Seedorf (e Loco) nos ensinou que devemos carregar é: abaixar a cabeça não é uma opção. Matemos qualquer bola no peito e o adversário que se cuide.

Que venha Quito. Que venha qualquer parte da América. A Estrela Solitária conduziu Seedorf e nos conduzirá sempre!

Obrigado, Seedorf!


Vinícius Franco - @franconio
14 de janeiro de 2014